NOTÍCIAS

Comunidades quilombolas defendem agilidade na regularização de terras
11 DE AGOSTO DE 2022


Durante audiência da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, nesta quarta-feira (10), o senador Paulo Paim (PT-RS) e representantes de comunidades quilombolas alertaram para a necessidade de agilizar o processo de regularização de terras para esses povos. Para eles, a longa espera pela titulação contribui para o aumento dos conflitos e das ameaças nos territórios quilombolas, colocando em risco a existência dessas comunidades e a preservação ambiental. O debate desta quarta-feira faz parte da agenda de mobilização do Aquilombar, evento que reúne caravanas de quilombolas de todo o país em Brasília com o objetivo de inserir suas demandas na pauta política.

 

A audiência na CDH aconteceu a pedido de Paulo Paim. Ele apresentou dados da ONG Global Witness que colocam o Brasil como quarto país no mundo que mais mata ativistas ambientais. Para o senador, esses números indicam a falta de políticas públicas que possam garantir proteção e condições básicas de vida às comunidades quilombolas e aos povos originários responsáveis, segundo ele, pela preservação das florestas brasileiras. Paim ressaltou que a falta de agilidade na emissão de títulos de regularização de terras para essa população é um desafio a ser superado.

 

— No Brasil não se sabe quantos quilombos existem. Segundo levantamento da Fundação Cultural Palmares, são em torno de 3.600 grupos. Apenas 154 foram titulados. De acordo com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), 1.700 grupos estão aguardando a conclusão dos estudos antropológicos ou a emissão de laudos técnicos para conquistarem seus títulos definitivos. Cuidar do meio ambiente é também proteger e respeitar os povos originários: quilombolas, indígenas e os povos das florestas que combatem o desmatamento e a degradação ambiental — afirmou o senador.

 

Essa crítica foi reforçada por Roberto Potácio Rosa, coordenador da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) do Rio Grande do Sul. Para ele, a demora nas titulações tem sido agravada pela paralisação dos processos no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e pelo baixo orçamento para a titulação dos territórios quilombolas no país.

 

— O que tinha de política de titulação, de demarcação para as comunidade quilombolas, elas foram esvaziadas. Haja vista o orçamento que se tem, mal dá para o Incra visitar uma ou outra comunidade. Não tem nenhuma participação de advocacia do Incra no que tange a tocar os procedimentos administrativos na questão da demarcação do território — disse Roberto.

O artigo 68 da Constituição garante que os remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras tenham a propriedade reconhecida. Em 2003, no governo do ex-presidente Lula, foi assinado o Decreto 4.887, de 2003, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos.

 

Orçamento 

A coordenadora da Conaq do Espírito Santo, Katia Penha, declarou que as comunidades quilombolas vivem as “piores violações dos seus direitos” dos últimos anos. De acordo com ela, o enfraquecimento de instituições e órgãos como a Fundação Cultural Palmares e o Incra, além dos seguidos cortes orçamentários, têm impedido o acesso desses povos aos seus direitos básicos.

—  É preciso que o Congresso [reveja o Orçamento], é preciso que o Senado brasileiro reveja o Orçamento. Quando se chega ao Orçamento, é preciso olhar para essas comunidades, para esse povo que está no campo defendendo o meio ambiente, defendendo a vida, produzindo alimento que vai para a mesa dos brasileiros — argumentou Katia.

 

Neste ano, o governo federal decidiu cortar R$ 40 milhões do Orçamento Geral da União que seriam destinados ao saneamento básico em comunidades rurais e quilombolas. Foram vetados ainda R$ 773 mil para regularização, demarcação e fiscalização de terras indígenas e proteção dos povos isolados. Na opinião de Antonio Mendes, também representante da Conaq, as iniciativas do atual governo federal têm o objetivo de fragilizar ainda mais as comunidades quilombolas.

 

Outra representante da Conaq, Celia Cristina da Silva Pinto, relatou as ameaças as quais estão submetidas as famílias dessas comunidades. Segundo ela, os territórios já ocupados por quilombolas tem sido invadidos, o que leva violência e isolamento a esses povos.

— Milhares de nós que estamos aqui, os nossos territórios hoje estão com fazendeiros lá dentro, com grileiros, com pistoleiros. Famílias e famílias sendo ameaçadas. Famílias e famílias fora dos seus territórios, amparadas por um programa de proteção de direitos humanos que não protege. Que, em vez de nos garantir segurança, nos deixa ainda mais inseguros e faz com que nós tenhamos de deixar nossas casas, nossas famílias, e ter de viver escondidos, mudar de nome, mudar de vida… Então aí a gente se pergunta: quais direitos humanos são esses dos quais tanto se fala? — questionou Celia.

 

Fonte: Agência Senado

Outras Notícias

Portal CNJ

Ao apresentar ações da Corregedoria, ministro Salomão destaca eficiência do Judiciário
17 de maio de 2024

O Corregedor Nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, destacou o crescente aumento da eficiência do...


Portal CNJ

Adoção de medidas sustentáveis incentiva uso de materiais digitais no CNJ
17 de maio de 2024

A predominância do uso de materiais digitais, como manuais e apostilas, e a proibição da compra de copos...


Portal CNJ

Eleitorado gaúcho tem até 23/5 para tirar título ou regularizar situação eleitoral
17 de maio de 2024

As eleitoras e os eleitores gaúchos têm até o dia 23 de maio, quinta-feira da próxima semana, para tirar seu...


Portal CNJ

Tribunal do Tocantins leva serviços ao cidadão durante Feira Agrotecnológica da região Norte
17 de maio de 2024

Para estar mais perto do cidadão e cidadã, a Justiça do Tocantins participa pelo terceiro ano consecutivo da...


Portal CNJ

Registre-se: no Amapá, homem de 65 anos tira Certidão de Nascimento pela primeira vez
17 de maio de 2024

Raimundo Fonseca da Silva, agricultor, natural do estado do Pará, viveu sem documentação oficial por 65 anos –...


Portal CNJ

Levantamento identifica gargalos para cumprimento das metas nacionais do Poder Judiciário
17 de maio de 2024

O déficit da força de trabalho, o alto volume de processos estão entre os principais motivos que dificultaram o...


Portal CNJ

Simpósio on-line discute plano de Ação da Política Judiciária para a Primeira Infância de São Paulo
17 de maio de 2024

A Escola Paulista da Magistratura (EPM), em parceria com a Coordenadoria da Infância e da Juventude (CIJ) do...


Portal CNJ

Regimento Interno Anotado permite conferir atualizações normativas do CNJ
17 de maio de 2024

Os julgamentos e decisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que citam ou relacionam dispositivos do Regimento...


Portal CNJ

Registre-se: Justiça Mato Grosso faz atendimentos na Penitenciária Central do Estado
17 de maio de 2024

Mais de 700 atendimentos já foram realizados em Mato Grosso nos primeiros dias Semana Nacional do Registro Civil...


Anoreg RS

ONSERP comunica pedido de suspensão de contribuição do FIC aos Cartórios do RS
17 de maio de 2024

Clique aqui para ler o comunicado na íntegra.